16/03/2021

O Crítico Estado do Mercado de Entretenimento Ao Vivo

Certo dia em fevereiro bateu na minha campainha um senhor na faixa dos quarenta anos de aparência melancólica: “faço parte da orquestra sinfônica e não tenho conseguido dinheiro para comprar remédios.” Estou saindo aos finais de semana para pedir ajuda.

O senhor que sai pedindo dinheiro nos finais de semana representa um dos milhões impactados nos segmentos de cultura, música e arte. A indústria de entretenimento ao vivo — primeira a ser fechada e última a retornar — é provavelmente a mais afetada pelo Covid-19. Em 2020 o Brasil deixou de realizar 350 mil eventos, acarretando uma perda econômica de 90 bilhões de reais para 640 mil empresas e aproximadamente 6.4 milhão de pessoas empregadas (formal ou informalmente) na cadeia: 8.1% do PIB Brasileiro (ABRAPE). A queda de receita no segmento é de 90–97%.

Em 2020 o Brasil deixou de realizar 350 mil eventos, acarretando uma perda econômica de 90 bilhões de reais para 640 mil empresas e aproximadamente 6.4 milhão de pessoas empregadas (formal ou informalmente) na cadeia: 8.1% do PIB Brasileiro (ABRAPE)

Quanto Tempo até Voltarem os Eventos?

No início da pandemia, a maioria de nós (inclusive eu) subestimou grosseiramente o tempo que demoraria até um retorno que aproximasse o mercado de entretenimento de níveis “normais” de receita. Há cerca de um ano, quando escrevi meu primeiro artigo sobre o tema, o consenso era de um retorno em 84 dias a partir do primeiro relaxamento do lockdown. Estávamos errados.

Primeiro, olhando o “copo meio cheio”, vale notar que várias vacinas funcionam. Desenvolver em tempo recorde essas vacinas é um pequeno milagre da ciência que não teve nem de perto a apreciação que merecia.

Seis candidatos já apresentaram dados clínicos extensivos, mostrando altos graus de eficácia. Todos se mostram mais eficazes que a nossa vacina contra gripe e, mesmo as menos eficazes, fazem um bom trabalho em barrar sintomas graves (Vaccines, Efficacy And Variants, Gavenkal Reserach). Outra notícia boa é que as vacinas que utilizam mRNA (como a Pfizer) são facilmente reprogramáveis para cobrir novas variantes (Bloomberg). Por fim, um ponto positivo que parece escapar à maioria das pessoas é que a pandemia não acaba quando ninguém mais adoece. Ela acaba quando ninguém mais corre risco de vida; e o sistema de saúde não entra em colapso.

A pandemia não acaba quando ninguém mais adoece. Ela acaba quando ninguém mais corre risco de vida; e o sistema de saúde não entra em colapso

Porém a curva se mostra dolorosamente longa até o retorno. Enquanto as vacinas Pfizer/BioNTech1 e Moderna mostraram eficácia de ~95% em seus primeiros testes clínicos, a Coronavac — a primeira vacina aplicada no Brasil — mostra eficácia que varia de 40% a 91% (When Will The Pandemic End, McKinsey & Co). É crucial entender o que uma mudança nesse indicador implica quanto à necessidade de cobertura de vacinação.

maioria dos Estados provavelmente irá declarar o final da pandemia quando chegarmos ao estado de “imunidade de rebanho”. Isto é, quando existir um número suficientemente grande de pessoas imunes para prevenir futuros surtos. Alguém vacinado se torna um blocker (o oposto de um transmissor do vírus). Naturalmente, quanto mais eficaz uma vacina mais blockers teremos nas nossas cidades e mais rapidamente chegaremos à imunidade de rebanho.

Considerando um nível de eficácia próximo aos 95%, precisaríamos de uma cobertura de 45–65% da população para atingir imunidade de rebanho (When Will The Pandemic End, McKinsey & Co). Neste modelo, se considera que a vacina é aplicável em crianças e que a “imunidade natural” — a porcentagem de pessoas que naturalmente não adoece de Covid-19 — esteja entre 0–25%.

Fonte: McKinsey & Co

Veja, no entanto, o que acontece quando assumimos que a vacina tem eficácia em torno de 50%: a cobertura mínima necessária fica na casa dos 90%. No caso de eficácias menores, a cobertura total é necessária. Um efeito similar ocorre no cenário onde não podemos vacinar crianças. Na prática, se a eficácia não for altíssima ou se não pudermos vacinar todas as idades, teremos que esperar que todos se vacinem para atingir imunidade de rebanho. Outras variáveis que podem afetar a curva são fatores como reinfecção e o advento de novas variantes (como as surgidas em Manaus, Londres e na África do Sul).

Fonte: Gavenkal Reserach

Na prática, se a eficácia não for altíssima ou se não pudermos vacinar todas as cidades, teremos que esperar que todos se vacinem para atingir imunidade de rebanho.

Texto retirado do artigo "O Crítico Estado do Mercado de Entretenimento Ao Vivo" escrito por Gabriel Benarrós, você pode ler completo aqui.